sexta-feira, 25 de maio de 2018

Resenha: O diário dos trinta e poucos anos, de Joyce Xavier

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Olá, leitores!
Outro dia passei aqui deixando a resenha do volume 1 da história de Malu Maluca e agora estou aqui para comentar pouco mais sobre a sequência que, também, em breve estará disponível em formato físico pela Editora Multifoco.


Título: O diário dos trinta e poucos anos
Autora: Joyce Xavier
Páginas: 98

"Nasci sozinha, o cordão umbilical foi cortado e, com isso, deixou-me livre. Não nasci siamesa com macho imbecil."

Resenha:

Sabe quando você está esperando a sequência de um livro e pula de alegria quando ela sai?
Depois que dei boas risadas com a vida conturbada de Malu Maluca em "O diário dos trinta anos" e quando a autora disse que teria sequência, pensei em mais loucuras que viriam.
De fato, as noventa e oito páginas do livro dois são capazes de levar qualquer um a altas gargalhadas. Eu mesma fui inventar de ler enquanto estava numa festinha infantil e a moça da mesa ao lado ficou me olhando torto. Depois que iniciei, não consegui parar de ler um instante.
A história é divertida, moderna e instigante. A escrita da autora e a fluidez que a personagem nos conta por Baby, seu diário, o que está acontecendo em sua vida, deixa tudo mais gostoso.
Nessa sequência, há o reaparecimento de alguns personagens do livro um e uma mudança drástica na vida de Malu. No início temos aquele "o que essa maluca aprontou, gente?" e terminamos emocionada pelo recomeço. Afinal, como já dizia Renato Russo: "Sempre em frente! Não temos tempo a perder".
Malu é uma personagem divertida que se encaixa perfeitamente no padrão "mulher moderna em crise". Ela quer ser amada, porém não consegue encontrar para sua vida uma companhia masculina que realmente valha a pena.
Sabe aquela ideia de construir uma família e medo de ficar a vida toda sozinha? Ela tem! Apesar de psicóloga, que eu me atrevo até nomear psicolouca, Malu sofre com as palavras ditas, a perda do que acreditou serem amizades perfeitas e as ilusões flácidas. Sofre com os apelidos de mal gosto, que levaram embora sua autoestima, e com as próprias atitudes que a levam a lugares e situações inacreditáveis.
Acredito que de fato ela conseguiu sua independência, achar o caminho do amor próprio e da autoconfiança, mesmo que na reta final do livro e assim é possível notar uma nova Malu, disposta a se renovar e se abrir.
A autora também não perde a oportunidade de unir a profissão da personagem (psicóloga) a um dos vários casos que atormentam as pessoas, em especial mulheres as quais mais sofrem com violências de abuso sexual, e numa consulta fica bem claro não somente um representante de vários casos como também os passos que devem ser seguidos. Denunciar, procurar ajuda, não se calar! Isso me deixou ainda mais encantada pela veracidade com que Joyce consegue dissertar uma narrativa, unir o humor ao sério sem misturar, sem perder o significado. Pelo contrário, ela sabe muito bem trabalhar as palavras para que momento algum isso se confunda.
Trata-se de um livro que é extremamente gostoso de se ler e não só pode como deve ser lido de uma só vez. Não há desculpas para enrolar! Uma leitura gratificante que só tenho a elogiar.
Enquanto Malu cresce, evoluímos com ela.

Nota (5/5): 🌟🌟🌟🌟🌟

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Resenha: Perto do fim, de Rosa Mattos

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Olá, leitores!
Mais um nacional lido e uma dica de outro para quem está procurando um livro que fisga o leitor desde a sinopse.


Título: Perto do fim
Autora: Rosa Mattos
Páginas: 243

"Acho que um dia deixarei de flutuar entre as lembranças e a realidade. E enquanto isso, vivo assim, entre dois mundos."

Resenha:

Uma leitura diferente unida a uma história com surpresas.
Jeff é um homem amargurado. Após perder a filha num incidente na praia, viu a esposa se afastar e morrer numa overdose de calmantes. Para piorar, na tentativa de dar fim a própria vida, ele sobreviver.
Seus dias não tinham luz. Não achava motivos para sorrir. Todo domingo era um ritual sagrado de visitá-las, levar flores e chorar, lembrar que estava a sete palmos abaixo da terra junto a elas.
Entretanto, no que poderia ser somente mais um domingo qualquer, ele escuta gritos desesperados e chega a tempo de salvar uma jovem de um possível abuso. Ainda que não fosse melhor momento, Jeff se vê impactado pela beleza de Valentina e posteriormente com a ingenuidade, bondade e esperança que exala.
Para completar, ele começa a ser ameaçado, porém tem dúvidas de quais os motivos disso e quem poderia ser.
Trata-se de um livro que realmente foi bem diferente do que eu imaginava. Ao ler a sinopse, comentei com amiga e fiz diversas teorias extremamente elaboradas as quais foram ao ralo.
O diferencial da obra se inicia pela escrita. Sem muitos quotes. A narração da história é o foco principal.
Jeff é um homem extremamente metódico e tenta se manter sempre atencioso a fim de evitar cometer mais deslizes que possam ser perigosos ou até fatais. Sendo ele o narrador, vemos o desenrolar dos fatos a partir de sua organização, indo desde sensações até os atos mais simples como acordar, tomar banho, descer as escadas. Em alguns instantes, esses detalhes podem parecer extremamente bobos e desnecessários, porém, em outros, mostram-se importantes. Vale ressaltar que o estilo de narração casa bastante com o personagem e conforme vamos conhecendo mais da história do Jeff, entendemos o porque carrega tanto peso sobre os ombros.
Em resumo? Ele poderia ser considerado aquele que passou na fila do azar duas vezes e ainda furou para tentar a terceira (e conseguiu).
Valentina surge de maneira que inicialmente me pareceu bastante suspeita. Todo seu bom humor e bondade foram dignos de me causar desconfianças (as teorias pipocavam) e junto a revelação da relação conturbada entre Jeff e o pai, me fazendo crer que nem tudo poderia ter sido coincidência.
O período curto que Valentina passa com os tios é o suficiente para que provoque em Jeff vontade de viver, uma redescoberta dos prazeres mundanos e, ligados as ameaças maldosas e constantes, o protagonista se vê vagarosamente protestando e lutando pelo entendido do porque de desejarem sua morte, acordando para a vida da qual passou tanto tempo desligado e superando os traumas diários, modificando rituais e encontrando algo que o reconfortasse.
Ao decorrer da narrativa, é possível ver que a autora trabalhou bastante no psicológico de um personagem maltratado. Jeff não é exatamente aquele tipo de personagem que você ama de primeira (talvez nem de segunda) e criar laços com ele deve ser baseado em grande empatia e compaixão, talvez tendo a mesma paciência que Valentina teve ao se aproximar dele.
Apesar das baixas ocorridas na vida de Jeff e o enredo que promete mistérios (e tem até certo ponto), não é um livro que traz uma história complexa e cheia de vai e vem, surpresas a todo instante, ainda que bem desenvolvida. Pelo contrário, vamos da calmaria a uma descoberta, depois retornamos a calmaria, desconfianças, calmaria.
Finalizando a obra, não sabia exatamente como me sentia, pois me encontrava em cima do muro entre as questões "esperava algo mais" ou "uma boa simplicidade para variar", ainda que a primeira opção apitasse com mais frequência. Senti falta de mais emoção e até mesmo ação, principalmente vinda do ameaçador de Jeff. Atitudes que fossem verdadeiramente perigosas e o atingissem mais.
É! Eu queria ver o circo pegando fogo.
Acredito que essa análise seja totalmente subjetiva e de acordo com a expectativa do leitor para a história, visando que a sinopse do livro por si só já deixa cheio de indações do "Por que? Quem? Quando? Onde?".

Nota (3/5): 🌟🌟🌟

sábado, 5 de maio de 2018

Resenha: O diário dos trinta anos, de Joyce Xavier

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Olá, leitores!
Venho dessa vez trazendo a dica de uma leitura regada de bom humor, uma obra nacionalíssima que vale super a pena. Em breve o livro será relançado em junho/julho pela Editora Multifoco, por isso ainda não tem link disponibilizado para compra no momento.


Título: O diário dos trinta anos
Autora: Joyce Xavier
Páginas: 116

"Eu sei onde dói, eu sei como dói e cada um sente a sua dor. Cada um tem a sua forma de agir e levantar a poeira."

Resenha:

Divertido, criativo e inconstante. Isso resume desde o livro até a própria protagonista.
Malu é uma mulher moderna em conflito interno. Indecisa, sonha com o amor ainda, mesmo que seus relacionamentos tenham terminado num par de chifres em sua cabeça.
As coisas começam oficialmente quando Carol, a atual namorada de um ex, dá a ela um presente para compensar a carência para provocá-la, um diário, Ginger, que aparece para resolver tudo sendo o maior confidente que a protagonista já teve.
Apesar de ter completado trinta anos, Malu Maluca permanece com mentalidade de quinze. Bem sucedida economicamente e dois diplomas na parede, ela passa por dias complicados na tentativa de esquecer o amor que tem por sua recente desilusão amorosa, o divórcio com Rafael, um ser que desprezível, vale ressaltar.
Uma personagem muito fácil de se amar e odiar, intercalando a cada dois capítulos.

"Sou um porre ambulante de uma ressaca infinita."

Para piorar, essa busca constante por algo ou alguém que a complete a leva a cometer grandes burradas e a arrumar companhias que não vem para somar em sua vida. Quando acha que está perto de encontrar o antídoto que a fará esquecer o ex grande amor de uma vez, alguma coisa acontece para jogá-la de volta algo fundo do poço.

"Ele não sabe o que é amar, ele não se ama, não se respeita e não consegue respeitar ninguém. [...] Eu não posso cobrar respeito do homem que eu amo se eu mesma não me respeito."

Uma comédia romântica dolorosa de se ver e praticamente impossível de não rir e torcer.
O modo como Malu conseguia refletir a cada instante um humor, desde os dias mais naturais até a TPM, afundando em relacionamentos curtos na busca pelo príncipe encantado na esquina até com carrinho de pipoca, torna uma personagem que muitos julgariam "trouxa", porém esperançosa apesar dos pesares.
E quando menos esperava, vinha a vida e a dava mais uma chacoalhada.
Malu sente-se carente depois de tantas falhas amorosas e procura sempre o problema sempre no próprio reflexo. Isso não significa que tenha baixa autoestima, contudo sua autoconfiança é tão inconstante quanto ela.
O jeito como ela fixava algo e depois se desfazia com medo de estar errando é exemplo nato disso e acontece repetidas vezes. Quando fazia algo "sem medo de errar", ficava bem mal depois.

"Uma simples noite de diversão vira romance, e quando o romance pega fogo, sempre tem algo para apagá-lo. Tudo acaba e vira cinza e só com o tempo para limpar e organizar tudo. E depois vem tudo de novo, parece reciclar. Nada vem para ficar."

Talvez mais complicado ainda seja de identificar de vez em quando com essa confusão que é sua vida, mas acontece e muito. Pelo menos, comigo foi assim quanto a indecisão constante.
Malu é um verdadeiro paradoxo. Mistério que vale a pena se aventurar.

Nota (5/5): 🌟🌟🌟🌟🌟

terça-feira, 1 de maio de 2018

Resenha: Diamante azul, de Carol Távora

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Olá, leitores!
Como têm passado? Estou aqui hoje para trazer a resenha de mais um nacional bem escrito e de uma autora que tive a chance de conhecer pessoalmente no acaso total. Espero que gostem da obra e queiram dar uma conferida por si só na narrativa.


Título: Diamante azul
Autora: Carol Távora
Páginas: 270

"Se não a integrarmos, ela nos domina. Se a ignorarmos, ela nos destrói."

Resenha:

Uma fantasia rápida, fluída, inteligente e bem diferente do convencional.
Annie perdeu os pais quando tinha apenas cinco anos. Cresceu na companhia de Melanie, sua irmã gêmea e totalmente contrária em personalidade, e uma avó bastante amorosa, ambas sempre dispostas a tirar Annie do abismo que a depressão lhe proporcionara sempre.
Entretanto, com a chegada do aniversário de dezessete anos das moças, as dores de cabeça de Annie ficam mais frequentes e cenas desconexas são demonstradas. Crises, machucados e um mistério.
A fim de proteger as netas, a avó decide se mudar para uma ilha bem distante, sequer dando uma justificativa do que de fato estavam "fugindo".
O que Annie não esperava é que encontrasse nessa viagem o menino dos olhos verdes o qual ela sempre viu em sonhos, porém sem trocar sequer uma palavra. Há algo entre os dois muito maior do que pode imaginar.
Um novo mundo parece surgir quando Annie é apresentada a suas origens e sua missão. Ela foi escolhida para ser Guardiã do Diamante Azul, uma entidade a qual nunca viu ou ouviu falar, porém seus pais e todos antepassados deram a vida para salvar.

"Não podes viver no que poderias ser, ignorando o que és."

Entretanto, uma maldição risca seu destino. Ela tem mais influência do que imagina e tudo se mostra um quebra-cabeças ainda maior. Está na hora dela se conhecer e aceitar seus dois lados, todavia essa escolha pode levar ao poder a paz ou o caos.
É um livro que me animou bastante lendo. A protagonista passou por maus bocados e a autora retrata isso logo no início. A dor da perda, a depressão, pensamentos mais profundos e os devaneios metafóricos da personagem são quase palpáveis, principalmente para quem gosta dessas reflexões (como eu). Claro que sempre tem aquele momento surpresa, a virada do jogo que mostra o lado de quem viu Annie se afundando por anos e agora está disposta novamente a segurar sua mão para então cumprir seus destinos, seja lá qual for.
Só que não vemos somente a tristeza nessas linhas. O amor que as irmãs nutrem uma pela outra é encantador. Melanie sempre estava disposta a ajudar Annie quando preciso fosse, ainda que a irmã não pedisse ajuda. Uma sendo o pilar da outra. Há ainda aquelas amizades que surgem nos momentos inesperados e são essenciais, cada uma a sua maneira.
Vemos a mente de uma jovem receosa e desorientada. Annie quem narra todo livro e nos permite mostrar não somente sua ingenuidade quanto aos fatos (confesso que tem algumas dicas que ela deixou passar e me deu vontade de estapeá-la para deixar de lerdeza) como também traços de uma juventude pouco vivida. Sabe o termo "gente como a gente"? Ela pode não ser a personagem mais perfeita, mas retrata em alguns momentos exatamente o que o leitor pensa e desejos mundanos, como passar a noite no sofá assistindo série.
Há a elaboração de um enredo bacana com traços cotidianos e sem personagens que sejam de revirar os olhos. Aliás, sequer me recordo de ter feito isso em algum momento da leitura, o que é um ótimo sinal.
Tiveram os momentos clássicos e dignos do "tipos de fic", com casal quase formado, algo que os impedisse e o aparecimento de um pedaço de mau caminho capaz de desajustar o tanque de muita gente.
Além disso, a autora se mostrou bastante capaz na escrita do seu primeiro romance, conseguindo casar a fantasia (claro que não podia faltar algum momento de arrancar suspiros em cenário tão azul e brilhante quanto o diamante) com assuntos mais reais e delicados como a autoavaliação, puxando algumas referências em clássicos e até mesmo na psicologia, ao falar das sombras e os lados de uma pessoa, sobre a busca de quem realmente somos. Inclusive me surpresou com um final novo, em aberto, porque ao pegar o livro confesso que não imaginava que teria sequência.
Agora só tenho a declarar que estou esperando ansiosamente pela chegada de "Diamante negro".

Nota (4/5): 🌟🌟🌟🌟